quinta-feira, setembro 08, 2011

Sidarta, o jejum e a terceira margem do rio

Sidarta encontra-se com o comerciante, que lhe pergunta o que sabe fazer. Sidarta responde que sabe "pensar, esperar e jejuar".

"- E que valor têm esses conhecimentos? O jejum, por exemplo. Para que serve o jejum?
- Para muita coisa, meu caro senhor. Para quem não tiver nada o que comer, o jejum será a coisa mais inteligente que se possa fazer. Se, por exemplo, Sidarta não houvesse aprendido a suportar o jejum, estaria obrigado a aceitar hoje mesmo um serviço qualquer, seja na tua casa, seja em outro lugar, já que a fome o forçaria a fazê-lo. Assim, porém, Sidarta pode aguardar os acontecimentos com toda calma. Não sabe o que é impaciência. Para ele não existem situações embaraçosas. Sidarta pode agüentar por muito tempo o assédio da fome e ainda rir-se dela. É para isso, meu caro senhor, que serve o jejum."
 Sidarta, Hermann Hesse, tradução de Herbert Caro, ed. Record.

Reli Sidarta na recente viagem familiar a Minas Gerais, onde não jejuei, com toda a certeza. Não sei jejuar, tampouco pensar ou esperar como Sidarta. Sei, só de saber, não de ser mesmo, no entanto, que liberdade não é poder ter aquilo que se quer, mas simplesmente saber não querer. Não precisar, não ambicionar e, no limite, não ser. Não sei se é algo que eu queira aprender. Também desconfio que é o tipo de coisa que não se encontra na literatura. Ou se encontra? Ou se desencontra?

Ao final do livro, Sidarta toma o lugar do barqueiro, ajuda as pessoas a atravessar um rio. Ele, no entanto, já completou a travessia , na verdade, atravessou para a terceira margem do rio. O rio.

***

PS.: A conclusão de O conde de Monte Cristo:
"- Querido - disse Valentine -, o conde não acaba de nos dizer que a sabedoria humana cabe inteira em duas palavras?
"Esperar e ter esperança.""

O conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas,
trad. André Telles e Rodrigo Lacerda, ed.Zahar

E assim, três textos literários tão díspares acabam se encontrando num post de blog porque um leitor encontrou neles um significado comum. É, literatura também é encontro, além do desencontro.

3 comentários:

Fabiana disse...

Claro que é encontro... ;)
Beijo!

O Leitor disse...

Claro?

Fabiana disse...

Claríssimo! "Sem nenhuma sombra de dúvida". Sempre. "Mas sempre não é o tempo todo."
Beijos!! ;)