"Para alguns, o Ser, o Self, é o fim do desejo. O que mais poderíamos desejar além do "tudo"? Para outros, uma experiência de plenitude, de inteireza, em que há lugar para o outro14, é possível. Ela dá lugar a um outro desejo, desejo do Outro, que não é apenas desejo de ser desejado, mas desejo do Outro que é querido por si mesmo na sua alteridade e não como um Ser que preenche meu desejo; pelo contrário, como Ser que aviva o meu desejo, água viva que jamais sacia completamente a minha sede..." (sublinhado meu)
E a nota da tradutora:
14 No original francês: "Pour d'autres, une expérience de plénitude, d'entièreté, qui 'n'affiche pas complet' est possible". O autor procura passar a idéia de uma pessoa inteira, mas que não se apresenta como auto-satisfeita, cheia de si mesmo, sem um lugar para o outro em sim. Ele fala de alguém inteiro, mas não completo ou repleto; o "completo" só é possível graças à presença do outro (N.T.). (subl. meu)
Deus não existe! (...eu rezo para Ele todos os dias), Jean-Yves Leloup, trad. Karin Andrea de Guise, editora Vozes, p. 28.
Não é bacana essa ideia de um desejo que não quer ser saciado para poder continuar desejando e buscando? É a antiga crítica à ideia do sábio na montanha. Acho que foi em O fio da navalha, do Somerset Maugham, em que aparece algo como "é mais fácil ser santo no alto de uma montanha", e o Larry (era Larry o nome do protagonista, eu acho), após uma experiência de iluminação mística, volta ao mundo para ser motorista de táxi e escreve um livro sobre pessoas que tiveram sucesso na vida. Algo assim. Nada muito diferente do percurso de Jesus Cristo, que se afastou durante anos para depois retornar para pregar, e praticar, seus mandamentos fundamentais, de amar a Deus e ao próximo.
Esse desejo que se quer desejo sempre é essa nossa necessidade de busca constante, e que já recebeu tantos nomes em tantas áreas do conhecimento. E ao mesmo tempo, aceitarmos a ideia de que somos seres desejantes pode nos ajudar a conviver com essa insaciedade. Talvez, parte dessa iluminação, ou realização, ou como quer que queiram chamar, seja exatamente aceitar e amar essa incompletude tão completa e plena.
Lembrei que encontrei essa ideia, talvez pela primeira vez, lendo Murilo Mendes, que, em algum lugar, disse que a fé, para ele, era uma fonte de inquietação, não de certezas. Acho que foi no livro de memórias A idade do serrote.
É a tal da sabedoria humilde, porque se reconhece incompleta e ignorante. É o combustível da busca, a gasolina da inquietação e, até mesmo, da angústia existencial.
Independente de crenças ou descrenças.
Lembrei que encontrei essa ideia, talvez pela primeira vez, lendo Murilo Mendes, que, em algum lugar, disse que a fé, para ele, era uma fonte de inquietação, não de certezas. Acho que foi no livro de memórias A idade do serrote.
É a tal da sabedoria humilde, porque se reconhece incompleta e ignorante. É o combustível da busca, a gasolina da inquietação e, até mesmo, da angústia existencial.
Independente de crenças ou descrenças.
2 comentários:
"... Ser que aviva meu desejo, água viva que jamais sacia completamente a minha sede"...
E o bom é não matá-la - mas tentar matá-la. Todos os dias. ;)
Muito lindo :)
Né? ;)
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