Gênio, Bloom, Harold. Tradução de José Roberto O'Shea, Ed. Objetiva.
Na esquina da Rua Buarque de Macedo com Rua do Catete existe um sebo de aspecto muito importante. Loja bonita, ampla e atraente. Fica no meu caminho de casa, quando estou voltando com a Pequena Leitora do ballet, ou do judô, com o Pequeno Leitor. Sempre olho a vitrine. Hoje, estava lá esse belo tijolo, que eu já observava a tempos em outras prateleiras. Tinha esperança de ganhá-lo de presente de meu amigo que trabalhava na editora Objetiva, mas, ele saiu de lá e essa fonte secou. Foi bom enquanto durou :-) Tomara que ele tenha o sucesso que merece em seu novo projeto.
Bem, vi o livro de Bloom na vitrine e resolvi perguntar o preço: R$ 20,00! Eles tinham lá diversos volumes, lacrados dentro de plásticos. Novos e virgens. O preço normal desse livro seria de uns R$ 80,00. Comprei na hora e não perguntei como eles conseguiam tal preço. São 828 preciosas páginas em um projeto gráfico de qualidade. Um volume sólido, para me acompanhar por alguns anos de leituras ocasionais.
Como não podia deixar de ser, conheci Bloom por sua obra para "crianças", Contos e poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades. Adoro antologias e as de Bloom são modelares. Antologias são declarações de amor à literatura e, para o leitor, portões para diversos senderos que se bifurcan.
Não sei como será essa leitura. Não há de ser fácil, não há de ser breve. Ele fala de Shakespeare, Cervantes, Montaigne, Milton, Sócrates, Platão, Thomas Mann, Freud, Nietzche, Kafka, Proust... São 100 gênios e ele se propõe a identificar a raiz da genialidade. Já gostei do prefácio. Um pequeno trecho:
"Ninguém havia de implicar com a idéia de se estudar o contexto de uma obra. Mas reduzir literatura, espiritualidade ou idéias de um historicismo tendencioso é algo que não me interessa. As mesmas pressões sociais, econômicas e culturais produzem, simultaneamente, obras imortais e obras datadas. Thomas Middleton, Philip Massinger e George Chapman vivenciava a mesma energia cultural que, supostamente, modou Hamlet e Rei Lear. Mas as 25 melhores peças de Shakespeare (de um total de 39) não são obras datadas. Se não conseguimos outro meio de explicar Shakespeare (ou Dante, Cervantes, Goethe, Walt Whitman), por que não retomar o estudo da antiga idéia de gênio? Habilidade não é algo inato; genialidade o será, necessariamente."
Antes de mergulhar no mundo de Bloom, a impressão que tenho dele é a de alguém que milita pela preservação de uma forma de arte que vai se perdendo: a boa e velha e formal literatura. Esse livro será um desafio para mim. Assim como Ulisses, em sua nova tradução, também da Objetiva, que repousa em minha mesa de cabeceira e é visitado de vez em quando. Não são livros para serem lidos em nossos tempos. A literatura requer um ritmo do qual estamos cada vez mais distantes, em que a profundidade se perde e a informação interrompe a formação. Enfim...
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