"Tradicionalmente, Os três mosqueteiros era um volume obrigatório na biblioteca dos meninos e adolescentes, que se fazia acompanhar por outros clássicos romances de aventura: A ilha do tesouro, Robin Hood, O Sheik, Beau Geste, Ivanhoé, Tarzan, O último dos moicanos, Vinte mil léguas submarinas (para citar apenas um Júlio Verne), Winnetou etc. De piratas caolhos, passando por homens-formiga, soldados da Legião Estrangeira e índios americanos, tudo nesses livros era ação e emoção." (pág. 13-14)Familiar, não? Desses aí que ele listou, li a maioria. Creio que todos em traduções adaptadas, muitos daquela coleção Clássicos da Literatura Juvenil, da Abril Cultural, outros tantos nas versões de bolso da antiga Edições de Ouro. Alguns resgatados em sebos, ou das prateleiras de uma biblioteca pública, como a Regional da Lagoa, onde pude encontrar praticamente todos os livros do Tarzan, jamais reeditados, muito menos retraduzidos. Aliás, se fossem relançados agora, os livros do Tarzan seriam vendidos com tarja preta e advertências de se tratar de literatura racista, muito provavelmente. Pois é, e eram mesmo. Racistas, colonialistas, imperialistas, mas absolutamente deliciosos e viciantes (o que agora virou elogio).
Para várias gerações, esses títulos foram a porta de entrada para a literatura. Existe um poema do Drummond em que ele se refere a sua leitura do Robinson Crusoé, não lembro do nome nem do livro em que está, agradeceria muito se algum leitor que se perdesse por aqui e soubesse, me ajudasse a refrescar minha memória.
Para os meninos esquisitos, que não jogavam futebol (bem, isso ainda é assim), muitos desses livros nos acompanharam na hora do recreio e em inúmeras outras horas da solidão acompanhada que os livros nos proporcionam.
Boa parte desses livros estão virando filmes, ou sendo refilmados pela enésima vez. É o caso dos Três mosqueteiros, cujo novo trailer já está passando por aí. Possivelmente, estará cheio de adaptações. O trailer já dá ideia de uma ação bem mais intensa do que em qualquer outra versão anterior. Possivelmente, a história ficará em segundo, terceiro, décimo plano. O que vale agora é muita coreografia e efeitos especiais. Bom, melhor não fazer juízos preconcebidos e esperar pelo filme. Mas desconfio que será algo muito diferente dos Três mosqueteiros que eram quatro, e que se transformavam em cinco, quando eu entrava na história. Aliás, continuavam a ser quatro, pois eu, quando os lia, me transformava imediatamente em D'Artagnan.
O fato é que esses livros não pegam mais a molecada de hoje. Perderam o espaço nas prateleiras para a nova literatura inaugurada pelo Harry Potter. Quem não gosta do HP? Eu gosto. Li tudo, vi os filmes e curti. Também curti as versões cinematográficas do Senhor dos anéis. Mas, meus filhos não leem o que eu li (e guardei, esperançosa e ingenuamente, para eles ao longo de várias décadas). Acham velho, os volumes não os atraem, a linguagem não empolga e é difícil.
Nostalgicamente, sinto mesmo saudades das tardes com a cara enfiada numa daquelas adaptações "juvenis", que, quando muito, tinham minha audiência disputada por um filme velho do Jerry Lewis ou do Elvis Presley na Sessão da Tarde. Agora, os livros compartilham a curtição juvenil com os chamados conteúdos da Internet ou da TV a cabo. Imagine só se quando eu tinha 10 anos existisse um canal de TV com desenhos 24 horas? Teria lido bem menos, com toda a certeza. Não os culpo, só lamento que coisas boas assim estejam se perdendo, substituídas por outras que não empolgam a mim, mas empolgam a eles. Sejam felizes, pois, com certeza, são bem mais "sociais" do que eu fui.
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