"(...)Numa época de leitores impacientes, a primeira frase é quase uma cantada. Seu poder de sedução tem de ser forte, para que o leitor siga adiante."
Assim escreve o irmão Adriano no seu blog.
As primeiras frases que me vêm à cabeça?
"Encontraria a la Maga?"
E
"In a hole in the ground, there lived a hobbit."
Talvez as únicas que consegui memorizar, e tão curtinhas... E são de livros enormes, imensos, titânicos. E começam de maneira tão singela. Num deles, o amargo Oliveira, noutro, o puro e obstinado Frodo. Quem diria. De universos tão distantes, foram se encontrar nas minhas mãos leitoras. Frodo virou personagem de cinema. Oliveira, desconfio, poderia ter sido personagem de um filme da Nouvelle Vague, sei lá. Agora, acho que será cada vez mais esquecido. A culpa é dele mesmo, pois, no final, desencontrou-se da Maga, desencontrou-se de si, enfiou-se num barril de bosta onde resolveu se afogar. Sucumbiu a si mesmo. Frodo salvou-se. Não totalmente, mas sobreviveu a si mesmo.
E a frase que citei do Adriano, citei porque reforça essa minha impressão de que hoje os livros entram numa competição de vida ou morte com os outros meios, basicamente, os audiovisuais e a leitura expressa da Internet. Se não pegar o leitor de cara e "puxá-lo pelo nariz", como escreveu Cortázar, pode considerar o leitor perdido. A passagem do livro de papel para o digital tem bastante a ver com essa história. Algo como "se juntar ao inimigo". Mas não, não considero o livro digital um inimigo, a literatura digital sim, ainda é nova demais para merecer o respeito que um dia ainda poderá conquistar, transformada em alguma outra coisa.
Minha dificuldade não costuma ser com a primeira frase, mas com a última. Se não tenho um final, sou incapaz de iniciar o que quer que seja. Preciso de conclusões. Não gosto de mistérios que não se revelam. Não me importo nem um pouco de saber do final de um livro, ou filme, antes mesmo de conhecer o começo. O suspense persiste, pois sempre é preciso descobrir como se chegou até ali. Que o diga Homero, que já sabia disso desde o princípio, com sua história que começa in media res, como ensinava o Junito Brandão.