terça-feira, setembro 27, 2005

O coração das trevas, Joseph Conrad

Sábado à noite, resolvi dar uma passada na livraria Argumento, do Rio Design da Barra. A pouca grana me levou ao estande dos livros de bolso da L&PM e acabei comprando O coração das trevas, de Joseph Conrad, tradução de Albino Poli Jr, R$ 12,00 ;-)
Comprei porque era do Joseph Conrad, de quem eu já tinha lido uns contos que não me lembro e o Lord Jim, que gostei. Adoro histórias de aventura e era isso que esperava dele, mas Conrad é muito mais. Não por acaso, os editores colocaram a seguinte citação de Jorge Luís Borges na capa, "É o mais intenso de todos os relatos que a imaginação humana jamais concebeu" e, além disso, foi a base para o filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, o que eu não sabia. Não vi o filme, sempre imaginei que fosse mais um violento filme de guerra, mas agora fiquei curioso.
Estou no começo do livro, Marlow, o narrador gosta de "áreas em branco" dos mapas e se sente atraído pelo coração da África ocidental, alimentada pelo Rio Congo, aonde ele pretende trabalhar como capitão de um vapor mercante. O comércio é de marfim, trocado com os nativos por bugingangas diversas.
Na página 40, de 148, já dá para ver que o livro é bárbaro. Pesquisando na Internet, descobri um site sobre o livro, http://www.cwrl.utexas.edu/~waddington/314/group2.html, que considera o livro racista, pelas descrições que Conrad faz dos negros, totalmente animalizados. Ainda é uma impressão inicial, mas não acho que seja racismo. Não sei se é aplicável dizer que Conrad é naturalista, enquanto classificação periódica literária, mas a animalização das descrições que ele faz ressaltam muito mais a crueldade e ignorância branca do que uma possível bestialização dos negros. É brutal.
Aparentemente, à medida que ele se aproxima do coração do continente, a natureza vai corroendo o espírito civilizado. A europa imaculada é desnudada e exposta em sua bestialidade disfarçada. Marlow, ainda incólume, fica espantando em ver como os europeus tratam os negros como inimigos. Como considerar inimigos àquelas criaturas totalmente derrotadas, espoliadas e desprotegidas? Como considerar seres tão fracos como inimigos?
No começo da história, quando ele busca a ajuda de uma tia para que lhe consiga o lugar de capitão no tal vapor, a senhora lhe diz para "arrancar aqueles milhares de ignorantes de seus horríveis costumes". O comentário do Marlow narrador é explícito: "Tentei, então, insinuar que a Companhia tinha o lucro como objetivo".

Um comentário:

Dayse Batista disse...

estreiei!!!!

Olha, fiquei curiosíssima, com vontade de ler o livro. Eu vi "Apocalipse Now" e é fantástico, mas pelo que dizes do livro, não consigo encontrar pontos comuns.
A descrição que fazes do que já leste e teus comentários pessoais talvez me façam encontrar tempo para isso -- ler por prazer.

OBRIGADA e boas leituras! Beijão.