quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Kopakabana

Como disse aí em baixo, em janeiro, fiz a oficina do José Castello, na Estação das Letras. Foi muito bom, pena que foi curto.
Ele passou dois exercícios. Leu a narrativa de um sonho de Kafka para nós e pediu que escrevessemos algo a partir disso. O outro "desafio" era escrever sobre Copacabana sem escrever sobre Copacabana. Ou seja, fizemos uma lista de 50 palavras proibidas, incluindo praia, areia, calçadão, turista, mulher, sol, pivete, camelô, enfim, todas esses clichês infalíveis sobre o Rio e, mais especificamente, sobre Copa. A idéia era fugir dos lugares comuns e tentar falar do bairro de maneira inusitada. Parece que consegui.
Eu juntei as duas coisas e escrevi Kopakabana (http://tinyurl.com/yuxfdd), o "professor" gostou e recomendou a publicação no Rascunho. Está lá, para quem quiser ver.
Faz tempo que o Rio de Janeiro não é mais o Rio de Janeiro. Estamos afundando numa cidade cinzenta, como um cenário de Kafka e estamos nos transformando em insetos, sim. Esse conto mostra como eu, leitor, leio a nossa cidade, cada vez menos tropical. Naturalmente, essa é a leitura que eu faço do meu conto. Mas, no momento em que outra pessoa ler, o conto passa a ser dela e ela (você?) será o autor da sua leitura.
Vou procurar o sonho de Kafka que está por trás da minha história para colocar aqui.
Kafka foi uma leitura importante para mim, acho que ninguém passa incólume por ele. Li umas tantas coisas, faz muito tempo e tudo meio que se mistura. Acho que essa mistura está presente nisso que eu escrevi. Chamam a isso de influência, nesse caso, bem explícita e intencional. Curioso pensar nas influências que não conseguimos identificar. Será que todos os escritores de que gostamos influenciam a gente? Acho que sim, a idéia é essa. Literatura é influência.

5 comentários:

Cris Serra disse...

:-) adorei os bei-jos que vc me deixou. saudds de ti, de vcs. faz mooito tempo que nao venh aqui... passo depois com mais calma. o diario esta meio parado - falta de tempo :-P - mas nao os planos, que é o que importa, afinal, nao? :-)

bjaum.

Anônimo disse...

Moradora do Rio que sou pude visualizar claramente nossos cartões postais...
Em meio a crise urbana que vivemos, as imagens do conto evocam a lama , o piche grudento da miséria de nossa cidade.
Em meio ao carnaval que vivo e batuco, me misturo com meninos de favela e empresto meu tamborim pra eles, incentivando a musica e auto estima, pra crianças sózinhas no meio da noite, sem vontade de ir pra casa e deslumbradas com a mistura social dos blocos de rua... Salve Vagalume , bloco de rua, ONG com grandes propósitos! Salve Daniel ,Grande homem,grandes propósitos! Meu irmão e motivo de orgulho!

Eliana Tavares disse...

Oi Daniel, a Flávia me enviou o endereço do seu blog. Pretendo voltar! Confesso aque fiquei um pouco surpresa com Kopakabana. Sou moradora e amante do bairro e não consigo imaginá-lo sem pensar em areia e pivete. Taí, gostei! Especialmente da forma como você descreveu o calçadão!!! Ops, palavra proibida...
Abraço
Eliana

Cris Serra disse...

"sinistro", teu conto, tanto no sentido tradicional qto no muderno... ;-) kafkiano, mesmo - mesmo sem NUNCA ter lido kafka (sim, sim, é verdade... :'-( snif...), dá pra perceber (aquele lance dos insetos e tal... ;-) rsrs) mas, sério, legais as imagens, a sensação de estranhamento que vc consegue transmitir, aquela coisa meio "the blue group" de não conseguir reconhecer coisas tão familiares. gostei. :-)

Anônimo disse...

Em relação ao Kopakaba, Kafka se faz presente em toda sua experiência paronóica e sensorial. Lendo o Romance - O Psicanalista - Leslie Kaplan, encontro novamente com Kafka, na construção da loucura e sua exteriorização com a "realidade". Eva enloquece e Kafka a tranquiliza, pois o que ele produz é semelhante com o que ela sente. E nós nos sentimos "normais", nos vendo nos outros.