Andei longe do blog, por outras atividades mais prementes. Outras realidades que exigiam minha presença, não desenvolvi, ainda, o dom da ubiqüidade.
No entanto, cheguei a uma conclusão importante, por mera observação empírica. Outras realidades têm direito à existência, e existem, de fato. Só que por serem outras, existem de maneira diferente da nossa. Uma delas é a realidade das criações artísticas. Um mundo onde as obras se sucedem, como as cidades, os mares e os acidentes geográficos em nosso planeta. Você pode andar por uma praia, de uma ilha, e encontrar Robinson tentanto arrastar uma enorme canoa para o mar. Avance mais um pouco e verá, ao longe, um cavaleiro bem magro, num cavalo derreado, seguidos por um escudeiro roliço. Cuidado com as grandes planícies, pois você pode ser atropelado por hordas de guerreiros de qualquer época, pois esse é um cenário recorrente de todos os períodos e universos. Imagine esse planeta, esse universo das obras literárias. Assim como o nosso, também infinito. Sabemos que jamais o percorreremos por inteiro.
O universo da literatura está em nossas mentes, coletivamente, comunica-se, interage. Numa concepção borgeana, existem lugares das obras escritas, das obras em andamento e do vir a ser. É uma realidade, diferente dessa física, mas que tem existência. Um mundo que se poderia chamar de platônico, por conceitual, mas não me agrada a idéia platônica de cópias imperfeitas. Criações imperfeitas, por incompletas, talvez. Assim como a nossa, essa outra realidade vive em mutação constante, mesmo quando se trata de obras supostamente acabadas. Um ponto final
pode facilmente se transformar em dois pontos, travessão, ou reticências. E o mundo se transforma novamente.